quarta-feira, 27 de julho de 2011

Seja Bem Vindo a Capela Nova. Conheça nossa Cultura. (Mas procure bastante…)


Sempre que chego a Capela Nova e vejo essas placas na entrada da cidade, sinto um certo incômodo. Os motivos desse incômodo, exponho a seguir.

A cultura é o conjunto de manifestações sociais, é a identidade de um povo, sua língua, seu sotaque, suas gírias, músicas, crenças, política, economia, comportamentos e até idéias, ou seja, todo o conjunto de expressões e relacionamentos de determinado povo ou civilização.

Certamente que Capela Nova, ao longo de sua história, produziu e tem seu acervo cultural que lhe faz única e rica neste aspecto. Entretanto, ao longo dos anos, essa nossa cultura vem sendo abandonada, esquecida, isolada. E o pior, é que nem se trata de uma “fusão cultural” regida pela globalização. O isolamento cultural que abordo, diz respeito tanto à escassez das manifestações artísticas em geral, que vão desde o artesanato (que diminuiu vertiginosamente), até grupos musicais, teatrais, literários, etc (que parecem ter entrado em extinção). A cada ano, ficamos mais pobres nesse sentido, a cidade caiu em um profundo sono, e fomos, então, lançados em uma espécie de vazio cultural onde consumimos apenas o que é mais fácil, ou seja, a televisão virou a única atração. Com isso, a arte perde sua identidade regional, crítica e inovadora para assumir um caráter massificado e superficial.

Capela Nova já foi conhecida pelas Cavalhadas, pelas apresentações da banda de música, pelos emocionantes atos religiosos, até cinema Capela Nova já teve! Quando eu era criança, tive a oportunidade de participar dos teatros musicais da Dona Stela César, que sempre apreciou e zelou pela cultura em nosso município. Há alguns anos, com pouco apoio, muita disposição e sob muitas críticas, Leonardo de Paula (o Léo da lan house – e antes do fliperama), orquestrou diversas atividades culturais na cidade, à frente da Pastoral da Juventude. Foram peças teatrais (quem não se lembra dos “Loucos”?), gincanas, torneios diversos, encenações na Semana Santa, além das reuniões entre jovens aos domingos. Mais ou menos na mesma época, criamos o Grêmio Estudantil Herculano Damasceno, que por certo tempo, também deu sua contribuição com atividades semelhantes. Capela Nova tinha a Banda Fênix, a Banda NSD, os Unidos do Samba… Hoje, me corrijam se eu estiver errado, mas somente a Thaís Kiwi se aventura (com muito talento) no mundo da música. Agora me digam, como é que uma cidade como Capela Nova, com uma população jovem tão grande, não tem sequer uma banda? Seja de rock, axé, sertanejo… não importa. Depois que o grupo de dança Expressão de Rua, encerrou suas atividades, quantos se arriscaram a fazer algo parecido? O que está acontecendo? Será que mais ninguém escreve? Desenha? Canta? Dança? Atua? Será que mais  ninguém tem vontade de fazer nada?

Para desenvolver a cultura e trazer a luz da arte para nossas vidas, deve haver em primeiro lugar a vontade e atitude do povo e estas qualidades se intensificam quando o povo é consciente, procura e recebe incentivo. E não se trata apenas de cobrar ações do poder público. Ele certamente, tem sua (grande) parcela de responsabilidade pela manutenção e incentivo à cultura e detém subsídios para tal, mas o desenvolvimento cultural de um povo é uma via de mão dupla e também depende muito de ações coletivas e voluntariedade. Sem isso, as coisas simplesmente não funcionam. E ser voluntário, é algo que grande parte da população capelanovense precisa (re)aprender. Dias atrás, fiquei perplexo ao ver pessoas ligadas ao corpo docente da Escola Chiquinho de Paiva, reclamando após saberem que haveria uma festa junina em um final de semana e precisariam ajudar sem “receber”. Não vou entrar no mérito da questão salarial de professores e funcionários do estado, nem estou discordando que todo mundo trabalha e merece descanso, mas doar um pouco de tempo e colaboração, ainda mais quando se trata de formadores de opinião, não mata ninguém. Felizmente, em meio à má vontade, o evento foi realizado com sucesso e espero que continue por muitos anos. Foi um exemplo rápido, porém bem ilustrativo do que ocorre. Todo mundo reclama da monotonia, da “falta do que fazer”, mas poucos querem ajudar, simplesmente porque “não ganham nada com isso”.

A busca para desenvolver a cultura através da arte parte da atuação de cada um e gera, além de diversão, consciência e por que não, lucro? A arte é luz para o senso crítico! E com essa luz o povo tem em mãos o mais poderoso meio para exigir dos governantes tudo aquilo que existe em todos os planos de governo, por exemplo: Apoio para arte e cultura.  E não falo de mega-shows caríssimos, falo de apoio e espaço para o novo e regional, que ao invés de esporádico, pode ser contínuo e efetivo.No entanto, é preciso tirar a bunda da cadeira e dividir as responsabilidades. Se cada um fizer sua parte, as coisas funcionam, mas é preciso fazer. Criatividade e talento, muita gente tem. O que falta mesmo é vontade.

Foto ilustrativa gentilmente cedida pelo site Capelanovamg

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